Em Buritis, caminhão de combustível é mais aguardado que a volta de Jesus


O fim do mundo chegou para quem precisa do carro ou moto mas não tem gasolina no tanque. Nem nos postos. A população está desesperada. A grande tribulação começou e ninguém avisou. Ou avisou mas, como sempre, ninguém quis ouvir.
         O povo, em seus veículos, corre de um lado para o outro clamando, pedindo por socorro e misericórdia, sem saber pra que posto ir.
          - Socorra-nos! Venda a nós gasolina, nem que seja pelos olhos da nossa cara. O que queremos é paz e tranquilidade para trafegar nas ruas esburacadas de Buritis.
         Os pais olham para os seus filhos sentados à mesa que estão, invariavelmente, fazendo pirraça pra não comer o molho de jiló, e pensam: "Como vamos levar nossos anjinhos para a escola? Acabou a gasolina, acabou o sossego."
         A mulher, cortando alguma coisa sobre a tábua de carne na cozinha, olha de viés  para o maridão todo esparramado no sofá da sala, assistindo alguma coisa sobre futebol, e uma luz de ideia na cabeça dela se apaga: "Tanto caminhoneiro na estrada e esse encosto estacionado aqui. É muita falta de gasolina mesmo."
         O maridão, espalhado por toda superfície acolchoada do sofá, com seus dois olhos do tamanho de uma bola de antitranspirante roll-on, olha pra ela lá na cozinha e murmura: "Quero ver ela me mandar ir caçar o que fazer hoje. Santa Falta de Gasolina!"
            Porém, na rua a confusão é confusa. Um brado profético ecoa na esquina: "Habemus gasolinus!" e um fuzuê apocalíptico de separar briga de cão, gato e gatunos se faz. Chegou gasolina no posto tal. A multidão acorre pra lá. É um biip biip! aqui, um foom foom! ali... quem não tinha rodas nem buzinas vai a pé mesmo ruflando seus galões de litros e litros. Já que garrafa de dois litros não pode, é só pra colocar água na geladeira.
          Nas ruas, a voz dos que vaticinam a desgraça e a ruína é incisiva e catastrófica de dentro de seus carros ou em cima de suas motos com o tanque transbordando gasolina:
          - À culpa é de vocês, seus infiéis, que não podem ver uma bomba de gasolina e já vão se ajoelhando diante dela, se humilhando por um litro miserável de gasolina, passando horas e horas em filas. Vocês vão pagar caro por isso. -No entanto eles se esquecem que serão co-participantes desse castigo.
          Já pronta para aceitar, resignada, sua  extinção  da face da terra da Palmeira, a humanidade contempla uma luz no fim da estrada. O salvador chegou! Aleluia! Imponente, forte, vencendo as colinas e vales. O seu ronco espanta as trevas e faz a cidade cantar... O caminhão de combustível chegou! Ele voltou! Veio para trazer fartura e devolver ao povo da Terra da Palmeira a tranquilidade para continuar vivendo sua vida mortal de idas e vindas sobre rodas pela longa estrada esburacada da vida, enquanto não morrem. Enquanto isso  aguardemos o retorno do Messias... não, não é o motorista do caminhão de gasolina. É o Messias, filho de Maria, o Salvador de Buritis e do Mundo, pagando caro pelo combustível.




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