Casos e causos buritisenses

Como é sabido da nação brasileira, as mulheres gostam muito de andar, principalmente quando não têm nada pra fazer, aí elas andam. E quando têm algo pra fazer, também. Ao contrário dos homens que preferem se postar diante de uma televisão e dormir. Nas cidades grandes é comum vê-las passeando pelos shoppings, clubes, academias e lojas de grifes renomadas torrando o dinheirinho suado do marido e... delas mesmas, pois tem mulher que apenas o dinheiro do homem não as vence; nas cidades médias, elas frequentam clubes, academias e lojas de grifes renomadas torrando o dinheirinho suado do marido e blá blá blá... não as vence; Nas cidades pequenas também é comum vê-las frequentando, mas é a casa das vizinhas mesmo, contando as novidades da vida de outras vizinhas...

Tudo bem. A nossa história acontece aqui em Buritis. Na zona... rural. Linha doisinha. Então, naquela tarde ensolarada depois de uma manhã de chuvarada a mulher chamou o marido para ir visitar os vizinhos, logo ali não muito longe depois daquele morro. O marido estava assistindo tevê, mexeu e remexeu no sofá. Resmungou que havia muita poeira e pedra no caminho.
- Nada disso. Poeira não tem porque choveu a manhã inteira. E as pedras a prefeitura desencascalhou tudo com a obra de encascalhamento dela.
Aí o homem disse que tinha uma onça pintada atrás de um toco no meio do pasto...
- Não tem mais. Ontem, a Januária e eu tratamos de apagar com água e sabão aquele desenho mais tosco. Onde já se viu desenhar minha mãe num toco no meio do mato.
O marido deu uma gargalhada e falou:
- É mesmo... hahahaha... Até o gado estava evitando aquele cantinho do pasto... Você viu como o capim...
A mulher se estacou na frente dele com uma tábua de cortar carne nas mãos. Nosso amigo levantou-se rapidinho do sofá...
- Na casa de quem você quer ir mesmo, meu benzinho?
Montaram na Titã 2010 vermelhinha e foram visitar os vizinhos. A tarde estava fresca com cheiro de mato molhado. Os tizius, à beira da estrada, davam seus pulinhos intermitentes nas ramas do capim gritavam: Bem-te-vi! Nos galhos das árvores mais altas os bem-te-vis reclamavam da provocação dos miúdos.

A casa dos tais vizinhos distava uns 2000 metros. Moravam numa casa azul no meio do pasto (também). Na casa azul no meio do pasto moravam o casal de velhos, duas moças velhuscas e um rapaz adolescente. Os cães moravam no quintal, as galinhas no galinheiros e as vaquinhas leiteiras no pasto. Os bezerros ficavam certas horas do dia na escola chamada curral. Era o tempinho de sossego das mães para mastigar seu capinzinho tanzania sem amolação dos pequenuchos, que só sabem sugar-lhes dando nelas cabeçadas.
Chegaram à porteira e a mulher desceu para abri-la. Entraram. Logo uma dúzia de vira-latas de toda cor e tamanho veio dar-lhes as boas-vindas com seus altissonantes: Au! Au! Au! O marido, que não era muito de festas e alarmes, acionou a embreagem da moto titã 2010 vermelhinha e levou o acelerador no último. Com aquele barulho e pipoco horrendo espirrou vira-lata pra tudo quanto era lado. A mulher não gostou da molecagem e deu nele uma abençoada cutucada nas costelas que fez com que ele soltasse a embreagem duma vez. A moto deu um salto parecendo burro brabo e foi morrer quase dentro da varanda dos vizinhos que tinham saído para ver o fuzuê dos cachorros. Com o salto da moto titã 2010 vermelhinha dando quase em cima da varanda, foi vizinho pulando pra tudo quanto é banda aos berros e “valhei meu senhor pai”!

Depois de tudo acalmado era só risada da peripécia do marido. Papo vem e papo vai, os vizinhos comentando, alertaram o nosso casal de que havia ladrões na linha, pois naquela manhã enquanto chovia, entraram na casa deles e surrupiaram o relógio tecnos do rapaz adolescente.
- Talvez esteja perdido em algum canto qualquer da casa, dona Vizinha.
- Tá não, dona vizinha-mais-moça. Nós já reviramos essa casa de pernas pro ar e nem sinal do bendito relógio.
- Mas esse monte de cachorro não percebeu a entrada do estranho. Seu Vizinho?
- Isso tava tudo embolado dentro do paiol com medo dos trovões e relâmpagos, seu vizinho-mais-moço. O certo é que o guri ficou sem relógio. Mas se eu pego esse ladrãozinho de meia tigela ia dar tanto tiro na cara dele que ele ia perder até o rumo da cidade...
- O rumo da cidade e da vida, nem seu Vizinho!
- E vocês, onde estavam que não viram nada, Dona Vizinha?
- Uai, mia fia. Nóis tava tudo embolado com os cachorros lá no paiol, pra mode de que aqui dentro de casa tem muito apareio elétrico e eles puxam o raio tudo pra cá, aí nós resolvemos ir pro paiol também.
O marido pediu um copo d’ água, haja vista que os vizinhos estavam demorando oferecer um cafezinho.
Uma das moças velhuscas foi buscar. De repente gritou lá da cozinha:
- Paiê. O que o sinhô ia fazer mesmo com ladrãozinho de meia tigela que roubou o relógio do guri?
- Eu ia encher a cara dele de tiro que ele ia...
- Então, pai, pega a espingarda e enche de tiro a cara da geladeira...

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